segunda-feira, 6 de julho de 2009

Jornal "o Globo" do dia 5 de Julho de 2009

SÃO JOÃO DA BARRA, RJ. Mais conhecida pelo conhaque de alcatrão que leva o seu nome, uma pequena cidade de vocação rural, no litoral norte fluminense, tornou-se parte de um grupo de dez municípios que, graças à descoberta do petróleo em seu quintal oceânico, passou a ser chamado de o “Texas brasileiro”. Ao surgirem reservas mais abundantes, houve quem — com certo exagero — apelidasse a área de “Nova Arábia Saudita”. Hoje, porém, São João da Barra busca uma denominação própria e tecnologicamente mais avançada: ela começa a dar os passos necessários para se transformar numa “Pequena Xangai”.Esse avanço propiciado por bilhões de dólares de investimentos de empresas da China, atraídas pela construção — em andamento— do Super Porto do Açu, de um gigantesco complexo industrial, pela brasileira LLX, do empresário Eike Batista, vem causandouma enorme euforia na população.
Ela é tão intensa que, em apenas dois dias de inscrição, iniciada quarta-feira passada, pouco mais de cem pessoas já tinham se alistado na esperança de obter uma das 90 vagas do curso grátis de mandarim, de quatro anos, que a prefeitura vai oferecer a partir de agosto em seis escolas municipais.A grande maioria das inscrições, abertas até o próximo dia 17, tem sido feita por adolescentes. Como Camila Neto, de 14 anos, estudante do nono ano do ensino fundamental: — Hoje em dia está muito difícil conseguir trabalho, especialmente em cidades
pequenas como a nossa.Por isso, eu que já estudo inglês, agora quero também aprender mandarim e subir na vida sem ter que sair daqui — disse ela.Os chineses estão, de fato, chegando.Uma firma de dragagem da China já trabalha nas obras do porto.
Quinta-feira, a siderúrgica Wisco (Wuhan Iron & Steel Company) anunciou a construção de uma usina junto ao porto. Ela vai gerar 20 mil empregos.JAC Motors, montadora de veículos de alta tecnologia, já prepara os planos para se instalar ali. A Chery, fabricante de automóveis, também estuda fincar-se na cidade.Elas devem se instalar ao longo de quatro anos, tempo de duração do curso de mandarim. Técnicos chineses virão. E as empresas também esperam contratar brasileiros fluentes naquele idioma.— Já existe, inclusive, um estudo de viabilidade da instalação de um call center chinês, que criaria 500 empregos para quem fale mandarim — antecipou Carlos Eiras, diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.Das 90 vagas para o curso de mandarim, que será gratuito porque vai ser bancado pela parceria entre aquela entidade e a prefeitura, 48 serão destinadas aos melhores alunos das escolas públicas (a partir dos 13 anos). As restantes 42 serão sorteadas entre os interessados da população local com mais de 17 anos.Katia Silene Chagas, há seis anos merendeira de uma das escolas municipais, foi um dos primeiros adultos a se inscrever.Diferentemente da maioria, ela não busca um emprego nas empresas chinesas, mas eventualmente num hotel ou mesmo em alguma entidade que faça a ponte entre a população local e os chineses que chegarão a São João da Barra: — Vão precisar de gente para recepcionar os chineses, para esclarecêlos sobre a nossa cidade, o nosso país. E falando mandarim eu vou poder fazer isso — disse ela.
Huang Su Mei, que prefere ser chamada apenas de Clare, será a professora das primeiras turmas, em dias alternados.Uma aula por semana, com duas horas de duração.
Para isso, ela se mudou de São Paulo, onde chegou há oito anos, para Campos, a 38 quilômetros de São João da Barra. Ela disse que depois de um ano os alunos já poderão conversar com os chineses com certa fluência.— Os mais jovens vão aprender com mais rapidez e facilidade.Para eles é mais fácil aprender outros idiomas — disse Clare.
Ela acrescentou que vai ensinar mais do que o mandarim, pois pretende transmitir a cultura de seu país através da culinária (“Voucozinhar nas classes”) e também de demonstrações de tai chi chuan.O número de chineses em São João da Barra por enquanto é pequeno: 40 funcionários de uma empresa de dragagem nas obras do porto. Trinta vivem num navio. Os outros dez numa minirrepública, num casarão no bairro de Grussaí.
Eles não falam português.O centro da sala de visitas é ocupado por mesas onde repousam três computadores, que possibilitam contatos com familiares na China.
Num canto, um televisor capta, via satélite, emissoras chinesas: — Mesmo sem um diálogo direto gostamos de viver aqui. A comida é boa. E gostamos de ver futebol brasileiro na TV — disse Xie Zu Yao.Wellington Abreu, tesoureiro da prefeitura, vibra ao falar das perspectivas de crescimento. A estimativa é de que US$ 36 bilhões sejam investidos na cidade. Já existem 66 memorandos de intenção com firmas interessadas em se instalar na área, criando um total de 55 mil empregos.A população, de 30 mil, deverá saltar para 250 mil nos próximos 15 anos. Por isso, já se trabalha num novo planejamento urbano:— Quando eu dizia às pessoas que era daqui, invariavelmente reagiam dizendo: “Ah, você é da roça”. Hoje, já não dizem mais. Famílias, que até pouco tempo atrás, em alguns bairros, tinham iluminação a lampião, hoje têm internet em casa. E de graça! — disse Abreu, mencionando com orgulho indisfarçável o acesso digital oferecido pela prefeitura, que criou 15 áreas (hot spots) de internet sem fio em praças públicas, além de um serviço residencial também gratuito, e do qual já participam duas mil famílias.Tais avanços vêm sendo propiciados pelos royalties do petróleo (equivalentes a 75% da arrecadação total do município) e pela construção do super porto (71% da renda obtida com o Imposto Sobre Serviços, ISS). As finanças engordarão ainda mais com a chegada de novas empresas e a criação de empregos: — Até pouco tempo atrás, quem vivia aqui tinha só duas perspectivas depois do curso secundário: mudar-se para outra cidade, ou sonhar com um emprego na prefeitura — disse Abreu. — O que era roça começa a se transformar em centro tecnológico.

Fonte : Jornal O Globo de 5 de Junho de 2009.

4 comentários:

  1. Que espetáculo! Puxa vida, que maravilha “Pequena Xangai”.Eu que moro no Rio, me apaixonei por isso...O Eike realmente é um iluminado.
    Muito prazer!Sou sogra da Thatiane, filha do Antonio Neves, Secretário de Governo..Meu filho conheceu voce ontem...
    Abaços
    Malu

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. O futuro chegou,e com ele as consequências,precisamos melhorar a nossa polícia,escolas,hospitais,serviços publicos ,restaurantes etc,e pricipalmente os cursos ,para melhorar o nível da população,para poder galgar empregos melhores ou seja mais qualifição e com isso,maior renda.abraços.

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